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PARA PARTICIPAR PREENCHA GPA FICHA DE INSCRIÇÃO

18 julho 2011

Hugo Sabatino recebe homenagem do Ministério da Saúde


Como reconhecimento por seu trabalho em prol da humanização do parto, Hugo Sabatino, professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e médico do Hospital da Mulher José Aristodemo Pinotti – Caism/Unicamp recebeu em Brasília uma homenagem, em forma de diploma, do ministro da Saúde, José Gomes Temporão. A premiação foi entregue durante a III Conferência Internacional sobre Humanização do Parto e Nascimento, realizada no final de novembro.

Sabatino foi o principal idealizador da criação da Rede pela Humanização do Nascimento (Rehuna), em Campinas, em 1993, no I Encontro de Parto Humanizado (Enparh). O encontro inicial reuniu 33 pessoas, vindas de várias regiões do Brasil e comprometidas com ações na área. O objetivo era juntar forças para trabalhar pela humanização do parto e nascimento no país. Como resultado das atividades dos participantes foi divulgado um manifesto. “Nós criamos a Carta de Campinas. Isso teve uma repercussão muito grande e os participantes que representavam o país começaram a trabalhar pela humanização”, recordou Sabatino.

A atuação do professor, porém, começava 13 anos antes, quando Jailson Sanches, aluno de medicina da Unicamp e sua esposa Rubia Mitiko Fuquda, ao final da gravidez, procuraram Sabatino para que seu parto fosse natural, sem anestesia e em posição de cócoras. O casal construiu uma cadeira para facilitar a realização do parto nessa posição. Para atender a solicitação foi estabelecida a apresentação de um projeto de pesquisa na Faculdade e determinado que a cadeira deveria ser doada para que outras mulheres pudessem ter seus partos na posição vertical e desta forma contribuir com a pesquisa. O projeto foi aceito pelo professor José Aristodemo Pinotti, que na época era Chefe de Departamento de Tocoginecologia da FCM, que funcionava nas dependências da Santa Casa de Misericórdia de Campinas.

Como o método mostrou-se satisfatório, Sabatino passou a incentivá-lo e com a união de outras pessoas, foi criado o Grupo de Parto Alternativo (GPA), ligado ao Departamento de Tocoginecologia. Entre os objetivos estavam a preparação do casal, o incentivo à presença de um acompanhante na hora do parto e ao respeito dos processos fisiológicos do nascimento, além de estímulo ao fortalecimento da relação entre a mãe e o filho, por meio do contato pele a pele imediato e do aleitamento materno.

Para que o método tivesse comprovação cientifica, o professor Sabatino e pesquisadores da Unicamp empreenderam estudos para demonstrar sua eficácia. E seis anos depois do primeiro parto realizado nesta posição, o médico criou outra cadeira de parto, produzida com material de fibra de vidro. Somente nesta cadeira, cuja patente foi doada à universidade, já foram realizados mais de 2.500 partos.

Com a criação da Rehuna, os ideais defendidos pelo grupo puderam ser divulgados com maior amplitude pelos participantes. A rede, que hoje é coordenada pelo médico Marcos Leite dos Santos, reuniu 5.000 participantes em sua terceira conferência internacional. Ao longo de quase vinte anos tem conseguido cumprir metas arroladas na Carta de Campinas como a divulgação e implantação de métodos de parto humanizado e o resgate do momento do nascimento como evento de profundas consequências para mães e filhos. “A homenagem, recebida em Brasília, foi um agradecimento a esta iniciativa”, realçou Sabatino.

Fundador do Centro de Parto Alternativo da UNICAMP - CAISM 

É da Unicamp o ganhador do Prêmio Abramge de Medicina de 2007. O prêmio Abramge de Medicina deste ano, que teve por tema Parto É Normal, foi conferido ao Doutor José Hugo Sabatino, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pelo seu trabalho intitulado Análise crítica dos benefícios do parto normal em distintas posições.

A Comissão Julgadora do concurso foi presidida pelo prof. Dr. Joamel Bruno de Mello (Conselheiro do Universo da Qualidade e Professor da Faculdade de Medicina da USP e da Faculdade de Medicina de Santo Amaro) e foi composta pelos médicos Vicente Bagnolli (Professor Associado e Livre Docente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), Wilson Maça Yuri Arie (Mestre e Doutor pela Faculdade de Medicina da USP e Chefe de Plantão da Casa Maternal Leonor Mendes de Barros) e Ângela Maggio da Fonseca (Livre Docente da Faculdade de Medicina da USP, Professora associada do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP) após a análise dos trabalhos inscritos decidiu, por unanimidade, pelo seu trabalho.

Por: Talita Matias
Fotos: Antonio Scarpinetti

Parto de cócoras

O que é o parto de cócoras?

O parto de cócoras ou também denominado de parto vertical, consiste na posição que a mulher pode adotar no momento do nascimento (período expulsivo), que acontece após completar os 10 cm da dilatação do colo uterino, e quando, a mulher sente vontade de fazer força para a expulsão do feto. Esta posição é bastante utilizada pelas índias e muito pouco ou nada pelas mulheres civilizadas. Por este motivo, existem duas formas de atenuar os possíveis inconvenientes da adoção desta posição. A primeira forma consiste em realizar a partir do terceiro mês de gestação, exercícios que fortificam os músculos dos membros inferiores, além da pratica da posição de cócoras durante os seis meses restantes da gestação. A segunda, consiste em utilizar cadeiras construídas especificamente para facilitar nestas mulheres a posição de cócoras (ver figura abaixo). No mercado, existem vários modelos desde os mais simples aos mais sofisticados, porém é necessário cuidado, pois existem cadeiras, no mercado, que pretendem facilitar esta posição e não o fazem.



Como é realizado?

Na realidade, neste tipo de parto devido à posição vertical o parto é realizado em forma espontânea (natural) com pouca ou nenhuma participação da pessoa responsável pelo atendimento que deverá ajudar o recém nascido a efetuar uma saída lenta (desprendimento) para evitar lesões (desgarros) do períneo da mãe e permitir aparar a criança de forma não traumática..

Este tipo de parto respeita os mecanismos íntimos, e o processo fisiológico da parturição, pode ser realizado em qualquer local, desde que se cumpram com os mínimos conceitos de limpeza e assepsia, pode ser realizado por pessoal competente que tenha experiência em relação ao parto, em gestantes de baixo risco, sempre cuidando de respeitar a vontade da mulher e tratando de não interceder no processo normal do parto. Como exemplo, não fazer corte na vagina (episiotomia), não estimular os puxos (força do expulsivo), permitir o contato precoce (imediatamente após o nascimento) do recém nascido com a mãe (pele a pele olho a olho), entre outras atitudes que torna ao nascimento mais humano (sendo esta uma das grandes vantagens deste tipo de nascimento).

Quais as vantagens para mãe e para o bebê?
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As principais vantagens são:

a) Para a mãe: O período expulsivo e de menor duração quando comparado a partos em outras posições (deitada ou ginecológica), menor dor no momento do expulsivo, maior satisfação após o parto (foi ela quem realiza o esforço), menor trauma perineal com melhor restituição após o parto, puerperio (período imediato após o parto) e amamentação mais precoce e efetiva;


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b) Para o feto e recém nascido: melhor estado de saúde avaliado por testes específicos (Teste de Apgar e medidas de gases na sangue dos vasos umbilicais).
Estas vantagens estão associadas aos seguintes fatores: ajuda natural da força da gravidade, aumento em mais de 28% da área do canal do parto o que permite ter para o feto um espaço mais folgado para nascer, melhor aproveitamento das forças de expulsão e menor pressão no canal do parto (vagina) . Melhor circulação sanguínea na região do útero e da placenta permitindo um desempenho maior tanto das contrações uterinas, como da saúde do feto. Todos estes fatores em forma individual são vantajosos tanto para a mãe como para o feto, quando estão somados as vantagens, são ainda maiores.

Quais os riscos para a mãe e para o bebê?

Não se tem encontrado riscos, tanto para a mãe como para o feto em mais de 2.000 partos realizados em nossa instituição, em gestações de baixo risco (sem patologias).
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Existe sim, um fator físico importante, já que a mãe deverá participar ativamente do parto tanto pela posição vertical (cócoras), como pelo esforço que deverá realizar após várias horas de trabalho de parto, às vezes sem dormir a noite anterior.


Nesse tipo de parto o pai da criança pode participar?

Neste tipo de parto, é de grande importância que a parturiente esteja acompanhada , seja pelo pai da criança como de um familiar , amiga ou mesmo de uma Doula (pessoa de confiança da grávida, especializada em acompanhar em forma física (carinhos, massagens) ou psíquica (palavras de alento e conforto), ou ambas.

Toda mulher está apta a ter seus filhos através do parto de cócoras?

Toda mulher que se prepara (fisicamente e psiquicamente) para o parto de cócoras esta apta para esse tipo de parto. Em nossa experiência ,70% das mulheres que nos procuraram conseguiram ter o parto nessa posição.
As outras, tiveram um inconveniente médico como, criança muito grande, posição do feto inadequada (distósia), ou mesmo um sofrimento do feto de causa desconhecida o que nos obrigou a realizar a terminação do parto através de fórceps ou por cesárea. Tivemos, somente, 10% de casos em que as mulheres desistiram da posição por causa de dor intensa durante o período de dilatação. Estes casos, hoje, estão sendo minimizados pela utilização de uma anestesia especializada, denominada de baixas doses, o que permite colocar a mulher em posição de cócoras.

Existe uma preparação para o parto?

Em nosso grupo estamos utilizando em forma pioneira no mundo, os benefícios de um método denominado de “Resiliência” com excelentes resultados, e com 70% de casos bem sucedidos, como já foi colocado acima.


Existe algum tipo de anestesia?

Sim, existe uma anestesia desenvolvida em nossa maternidade para partos em posição de cócoras, aonde a mulher pode caminhar todo o tempo que tem essa anestesia, e posteriormente ter o parto em posição de cócoras. Essa anestesia utiliza o método da peridural (colocação de um cateter no espaço peridural), porém com a utilização de uma droga analgésica (fentanil ou similar) com uma dose muito reduzida de anestésico (bupivacaina), com grandes vantagens de obter um estado analgésico efetivo com preservação da atividade motora dos membros inferiores, situação impossível de obter com as anestesias peridurais convencionais que obriga a mulher que a utiliza, a adotar impreterivelmente a posição horizontal, e ou ginecológica (litotomía), no momento do parto, por falta de condições para estar de pé.

Hugo Sabatino é Médico Obstetra; Professor Adjunto do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp; Coordenador do Grupo de Parto Alternativo desde o ano de 1980.

15 julho 2011

A devida atenção ao parto de baixo risco - Setembro de 2006


(...) O seminário de dois dias em Madri discutiu quatro temas. No primeiro deles – “Perspectivas na educação para a saúde do casal” – foram analisados fatos importantes sobre acontecimentos pré-históricos e históricos do nascimento, ressaltando o que denominamos de “resgate das formas de nascer”. Tenta-se valorizar condutas de antigamente que, por perspectivas erradas, deixaram de ser adotadas. Como por exemplo, a posição vertical da mulher no momento do parto (cócoras), modificada para horizontal (ginecológica); a permissão da presença do acompanhante no momento do parto, em especial da figura paterna; ou mesmo a permissão dos partos domiciliares em casos de baixo risco, com pessoal devidamente treinado, como foi a experiência do professor Galba Araújo em Fortaleza. Apresentamos a nossa experiência com a utilização da “resiliência” na preparação psicológica e física para a maternidade dos casais. O presidente da  Sociedade Espanhola de Ginecologia e Obstetrícia (Sego), por sua vez, falou sobre a nova perspectiva para realizar o seguimento pré-natal nas mulheres em Espanha.

Resposta do Dr. Hugo Sabatino ao Cremerj - 2009

Resposta do Dr. Hugo Sabatino ao polêmico artigo ARTIGO “CESARIANA: A Polêmica das Taxas”, escrito por Raphael da Câmara Medeiros Parente (Médico do Ministério da Saúde - HSE; Doutor em Ginecologia - UNIFESP; Mestre em Epidemiologia - UERJ) e publicado no Jornal do CREMERJ - ABRIL 2009 - páginas 8 e 9.

"Atualmente, há uma forte campanha governamental a favor da humanização do parto e do parto vaginal. "

RESPOSTA
Esta informação é no mínimo incompleta e tendenciosa, já que as intervenções do governo Brasileiro para redução da cesárea começaram em 1979 com o pagamento igual de honorários médicos no parto vaginal e de cesárea do INAMPS. Continuando nos anos subseqüentes até nossos dias, pelo tanto esta campanha está cumprindo 30 anos, intensificada na era do atual Governador José Serra, quando ele era ministro da Saúde.

"Este conceito de humanização, há muito distorcido, é usado para retirar substancialmente o médico do atendimento obstétrico. Para isto, são divulgadas informações erradas e levianas de que os médicos são menos “humanizados“ que outros profissionais de saúde, que são os únicos responsáveis por altas taxas de cesariana com o objetivo único de preservar sua rotina e aumentar seus ganhos e que não respeitam a autonomia e o desejo das mulheres pelo parto vaginal. Vem sendo dito, inclusive, que o médico não sabe mais realizar um parto vaginal, dando a entender que esta capacidade somente é dominada pelas parteiras, enfermeiros, obstetrizes etc."

RESPOSTA:
De fato o conceito de humanização é frequentemente interpretado em forma distorcida, inclusive pelo responsável deste documento, ao qual estou respondendo. Em várias publicações de nosso grupo na Universidade de Campinas, temos identificado, em casos de baixo risco, os seguintes pilares da Humanização: A) Respeito aos processos fisiológicos da Gestação, parto, puerpério e amamentação materna; B) Participação multiprofissional e interdisciplinares; e C) Respeito as costumes regionais e individuais do casal . Sem a presença destes três pilares não pode ser considerada a atenção ao nascimento de baixo risco, como humana. O problema é complexo porém bem claro para não abrir mão destes pilares. Realizar a finalização de uma gestação de baixo risco, mediante uma cesárea, sem causa médica que a justifique, ainda que esta seja a pedido da gestante (as indicações médicas estão identificadas claramente em todos os livros da especialidade), é uma conduta médica que não respeita os processos fisiológicos do trabalho de parto, parto e nascimento, por este motivo o procedimento cirúrgico realizado de forma desnecessária, deixa de ser um procedimento natural, humano ou fisiológico. Esta situação está bem explicada em todos os livros de texto da especialidade. Aquele profissional que não respeita este principio se coloca por em cima de este processo normal natural (humano), tentando com esta atitude superar este processo fisiológico, delicado, e bastante complexo que envolve qualidade de vida de duas pessoas e de uma família, Seria como pretender modificar fenômenos naturais como a saída do sol ou de um entardecer. O que podemos sim é participar ou assistir a esses fenômenos para sua contemplação com uma boa companhia, porém o que não podemos, ainda que sejamos profissionais competentes e inteligentes de ser capaz e melhorar esse processo. Em relação a querer melhorar o fenômeno do nascimento através de uma cesárea estou colocando a foto e comentário a este respeito, do eminente e respeitado Prof. Dr. Bussâmara Neme, matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo do dia 15 de Fevereiro deste ano. Pelo tanto aqueles médicos que realizam este procedimentos seguramente são menos humanos que aqueles que respeitam o processo fisiológico do nascimento em casos normais, e esta não é uma definição leviana e sim fundamentada na fisiologia do processo. O prestigioso pesquisador Holandês Pieter Eric Treffers (1996), na Guia de Maternidade Segura da OMS, nos informa que: “A Obstetrícia deve acompanhar a fisiologia. Intervenções cirúrgicas devem prevenir ou corrigir patologias e não aperfeiçoar a fisiologia”. Por outro lado todos os livros de cirurgia colocam a operação cesáreas como sendo “cirurgia de alto risco”, devido a que o cirurgião deve invadir o peritônio, aumentando com isto os riscos durante e após a cirurgia, sendo que no caso das cesáreas este risco se estende também a próximas gestações como o demonstram os estudos de Clark (1985). Fig. 2 Estes dados demonstram claramente que desde o ponto de vista dos riscos as mulheres que são submetidas a cesáreas desnecessárias estarão sendo colocadas (sem causa) em próximas gestações a riscos que aumentam significativamente a padecer de um acretismo placentário, o que pode de fato ser muito difícil de corrigir, colocando a vida da mulher em um grupo de maior chance de morte (lamentavelmente esta informação não e transmitida as mulheres que solicitam cesáreas desnecessárias). Esta atitude de sonegar informação esta em conflito com o juramento Hipocratico que diz “Primeiro não fazer dano” (Primum non noccere).

"Para solucionar este problema, foi criado pela USP um curso de obstetrícia. Vocês leram bem: um curso de obstetrícia! Após quatro anos, o formando está apto a fazer partos vaginais. Este curso não tem nada a ver com a enfermagem. A primeira turma forma-se neste ano de 2008. O curso está vinculado à Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. Espera-se com isto resolver a falta de formação médica para o parto vaginal.
Não se deixem enganar! Tudo isto somente é difundido, e muito eficazmente, com o intuito de diminuir custos para os gestores e para favorecer determinadas categorias profissionais que vêm cada vez mais tentando tomar espaço dos médicos.
Louve-se o trabalho que vem sendo realizado pelo Professor Ricardo Oliveira, Conselheiro do CREMERJ, que mobilizou obstetras da FEBRASGO e que agora tem enfrentado a questão junto ao CFM, ANS e MS.
O grande problema é que os médicos, durante muito tempo, deitaram em “berço esplêndido”, achando que nada aconteceria com eles e permitiram que vários argumentos infundados passassem a ter status de verdade absoluta, tornando atualmente a defesa deles como politicamente incorreta. Ou tomamos uma atitude agora ou não demorará o dia em que o médico será proibido de realizar um parto vaginal, restando para ele tão somente a cesariana de emergência e todas as suas implicações legais."

RESPOSTA:
Estes conceitos eminentemente protecionistas da profissão, não tem nada a ver do que realmente é melhor para a Mãe e seu Filho independentemente de quem atende o parto.
Por outro lado podemos concluir que aquele médico que tem medo de ser substituído por uma parteira, mereceria ser substituído, já que para humanizar o atendimento ao parto assinalamos que deve ser multidiciplinario, e trabalhar em equipe para o bem do binômio mãe - filho.
A forma de o médico trabalhar em conjunto ou em parceria com as parteiras e realizada na maioria dos países que tem formas de atendimentos a população com grande benefícios tanto para a Mãe, seu filho e a própria sociedade (tenho em meu poder uma extensa bibliografia que certifica esta afirmação e a coloco a disposição, incluindo o último livro eletrônico publicado em 2007 sobre atenção ao nascimento de baixo risco).

"A primeira questão que deve ser combatida refere-se aos supostos malefícios da cesariana. Baseado nisto é que as políticas de saúde combatem o médico. Ele passa a ser o vilão do sistema por ser o único que pode realizar a cesariana. Se houver uma desqualificação da cesariana, torna-se mais fácil desqualificar o médico. Para este objetivo, “armam-se” de dados e de estudos enviesados e, principalmente, de informações falsas. Cometem a maior leviandade que é a de associar a mortalidade materna com altas taxas de cesariana, dando a entender mais uma vez que o médico é o responsável pelas mortes de nossas mulheres."

RESPOSTA:
A prática de cesárea com diagnostico médico correto, é uma das formas mais efetivas e humanas de poupar vidas maternas e perinatais, existem um numero grande de trabalhos que o demonstram. Este aspecto do atendimento em casos de risco tanto para a mãe como para o seu filho não entra em esta discussão (existe abundante bibliografia ao respeito). O que este documento mais uma vez trata de confundir, misturando as cesáreas realizadas com indicação médica (com risco) com as cesáreas sem indicação médica (sem risco ou desnecessárias). Existem dados que mostram que uma mulher com cesárea desnecessária tem sete vezes mais risco de morrer quando comparada a partos vaginais. E tem aproximadamente 35 vezes mais chance de ter uma complicação durante, após a cesárea e em partos subseqüentes. (os trabalhos que certificam, estes dados estão em meu poder).
Acaba de sair uma publicação aonde se demonstram aumento da incidência de complicações de endometriosse após a realização de cesáreas bem sucedidas.
Por outro lado este senhor não coloca trabalhos que certifiquem o contrario, ou seja que mostrem as verdadeira vantagem (que não sejam econômicas) para a mãe e seu filho quando a finalização da gestação e realizada a través de uma cesárea desnecessária.

"Mortalidade materna não tem nada a ver com taxas de cesariana e sim com condições de saúde que faltam no nosso país por recursos insuficientes e pela corrupção endêmica. Entidades governamentais, em sua campanha pela redução de cesarianas ditas desnecessárias, relatam dados que são absolutamente enviesados e manipulados, dando a entender que a cesariana é muito mais perigosa que o parto vaginal. Isto não é verdade."

RESPOSTA:
Neste ponto novamente o citado Sr. trata de confundir com comentários tendenciosos ao misturar políticas de saúde com aumento das complicações das cesáreas desnecessárias que se realizam numa classe social privilegiada, aumentando com isto custos de atenção que poderiam ser utilizados para melhorar essa políticas de saúde em classes sociais menos privilegiadas.
Temos dados científicos (estão em meu poder), realizados por pesquisadores de renome e por Instituições internacionais (OMS) que demonstram a associação maior de mortes materna em casos de cesáreas desnecessárias, ignorar estes dados e no mínimo irresponsabilidade profissional.

"Como exemplo, temos que foi divulgado que fetos nascidos entre 36 e 38 semanas têm 120 vezes mais chances de desenvolver problemas respiratórios que aqueles que nascem com 40 semanas. Além de não ser dada a fonte deste número absurdo, deixa-se entender que a cesariana é a responsável por isto e não o motivo que levou à cesariana.
Repete-se à exaustão que o parto vaginal é mais seguro para a mãe e o bebê, só que não há evidências indubitáveis disto. A questão passou a ser tão complexa que, só em discordar desta afirmação, o médico torna-se politicamente incorreto. Relata-se que hemorragia e infecções no pós-parto são mais comuns na cesariana e alguns estudos mostram exatamente o contrário. Provavelmente, alguns, ao lerem esta informação, vão até se espantar, mas isto é resultado desta desinformação que vários setores vêm realizando de forma sistemática."

RESPOSTA:
Este senhor dá informações sem citar as fontes, motivo pelo qual não é possível manter um dialogo científico e sim uma mera transmissão de informações supostamente favorecedoras de uma conduta no mínimo anti-natural. Por outro lado podemos apresentar inúmeros trabalhos que mostram os malefícios de cirurgias mal sucedidas em casos de gestações de baixo risco, porem não temos trabalhos que nos mostrem o contrario, ou seja os benefícios (que não sejam econômicos) de cesáreas desnecessárias.
Não é verdade que as cesáreas tem menos infecções e menos hemorragias. Em casos das infecções lembrar que o cirurgião de uma operação cesárea, tem que invadir peritoneo (membrana que protege ao organismo exatamente desta possibilidade), situação que esta preservada em um parto natural.

"O governo reiteradamente afirma que outra causa destas altas taxas de cesariana ocorre por comodidade dos médicos e por estes convencerem as gestantes a realizarem a cesariana. Sem dúvida, podemos afirmar que vários destes fatos ocorrem por causa dos formuladores de políticas de saúde não terem qualquer trato com a realidade obstétrica, mas sim somente com estudos e com metas a serem traçadas. Prova disto é a total falta de importância a duas grandes questões que bastante influenciam as altas taxas de cesariana: processos judiciais, o que leva a uma medicina defensiva, e a violência das grandes cidades que leva a um temor de assistência a partos no turno da noite. Ao mesmo tempo, esquecem ou não sabem que várias das cesarianas são solicitadas (quando não exigidas sob violência) por gestantes e/ou familiares. Somado a todos estes fatores, temos ainda a superlotação dos hospitais com impossibilidade de correto acompanhamento dos partos pela falta de profissionais."

RESPOSTA:
Aquele profissional que coloca em risco a seguridade de seu paciente com medo de uma ação judicial o por medo de sair de noite, não deveria exercer a profissão de parteiro e sim de uma profissão que ofereça a segurança que ele pretende. Deixando para profissionais preparado(a)s, que realizem o atendimento do nascimento com segurança, sem necessidade de cirurgias perigosas.

"A meta da OMS de 15% de cesarianas é citada constantemente por todos os gestores e propagadores do parto vaginal, mas não dizem que ela foi traçada há mais de 20 anos baseada em taxas de países com baixa mortalidade materna. Se fosse traçada baseada nos mesmos parâmetros, atualmente, seria maior.
Esta meta foi traçada em 1985, na ensolarada Fortaleza, belíssima capital do Ceará, por cerca de 50 pessoas que incluíam enfermeiras, parteiras, obstetras, pediatras, epidemiologistas, sociólogos, psicólogos, economistas, administradores de saúde, mães, donas de casa, etc. Baseados, exclusivamente, no fato de que os países da época que tinham as menores razões de mortalidade materna terem taxas de cesariana próximas a 10%, arbitraram que nenhum país deveria ter taxa maior que 15%. E desde então, esta taxa é propagada aos quatro cantos, esquecendo-se que, atualmente, todos os países tiveram aumento em suas taxas de cesariana, não havendo mais praticamente nenhum dentre aqueles que têm as menores taxas de mortalidade que atinjam estes valores. Sabe-se que populações de alto risco necessitam de taxas maiores, mas isto não é levado em conta.
Estudo recente, que dá uma luz nesta questão, avaliou taxas de cesariana de 119 países dividindo-os por baixa, média e alta renda. Demonstrou que entre aqueles de baixa renda, quanto menos cesariana, pior a mortalidade neonatal, e entre aqueles de alta renda, quanto mais cesariana, menor a mortalidade neonatal (Althabe et al., 2006). Os resultados foram estatisticamente significativos."

RESPOSTA:
Esta associação realizada em forma simplista, mais uma vez trata de confundir, já que a mortalidade tanto materna como perinatal esta associada a um numero grande de variáveis e não somente a incidência de cesáreas, principalmente em classes sociais menos privilegiadas. Mesma situação em classes privilegiadas aonde historicamente as complicações são menores não pela realização de cesáreas e sim pela condição social. Estudos apresentados no Simpósio Internacional sobre Cesáreas realizado em Campinas em 2002 deixam claro esta situação com demonstração em vários trabalhos da associação de aumento de cesáreas e aumento de risco materno e perinatal.

"O mesmo ocorreu em relação à mortalidade materna nos países de baixa renda. Nos de média e alta renda, não foi encontrada nenhuma associação. Este estudo, se bem analisado, sugere que estas taxas atuais que os governos propagam podem não ser as mais adequadas. No mínimo, necessita-se de uma nova discussão sobre este tema."

RESPOSTA:
Este senhor ignora que nos anos 1982 e 2002 foram realizadas na Cidade de Campinas (SP) dois Simpósios Internacionais para tratar destes temas aonde foram referendadas as cifras de incidência de cesáreas as taxas de mortes maternas e as complicações das mesmas em casos de cesáreas de baixo risco, estas conclusões estão em meu poder e as coloco a disposição.

"Questão que, para nós brasileiros, não pode ser desprezada é a heterogeneidade de nosso país que engloba áreas compatíveis com as mais desenvolvidas do mundo e outras similares aos países mais pobres do planeta.
Casas de parto são tratadas como solução dos problemas para redução de cesarianas e da mortalidade materna. Tentam passar a idéia de que elas são muito seguras, o atendimento é humanizado, já que não é realizado por médicos, e as vontades da gestante são atendidas, como a presença de um acompanhante. O que não dizem é que quase não há partos nelas, há presença de vários profissionais para cada gestante e que, mesmo assim, pelas não são seguras.
Não há estudo que ateste a segurança das casas de parto. Mais grave que isto é o movimento crescente a favor do parto domiciliar. Como grande vantagem deste sistema de parto, temos o gasto nulo para o governo. Obviamente, que isto em tese, porque as complicações desta política terão que ser arcadas no futuro. A grande questão é que o evento mortalidade materna é raro e compensa para o gestor assumir o risco."

RESPOSTA:
Novamente estamos frente a informação tendenciosa e com conhecimento incompleto sobre o tema. As casas de partos apresentam cifras de atenção ao parto e segurança satisfatórias, a não presencia do médico se deve a proibição de Instituições corporativistas. Este senhor ignora os trabalhos do eminente Obstetra já falecido Prof. Galba Araújo, com cifras de mortalidade materna e perinatal menores as obtidas no Estado de Ceara, com atendimento de partos simplificado e por parteiras tradicionais. Caso se interesse por este magnífico trabalho que percorre o mundo a través da Fundação Kellog, encontra se no livro Medicina Perinatal da editora da Unicamp de Campinas (SP).
Por outro lado um 15% dos partos realizados em Brasil são atendidos por parteiras tradicionais em locais de difícil aceso e em regiões aonde não existe atenção médica institucional.

"O objetivo deste texto é mostrar dados que estão sendo divulgados erroneamente pelos defensores da gradativa retirada do médico da assistência obstétrica, usando para isto a necessidade da queda das taxas de cesariana, e mostrar evidências contrárias ao que é divulgado para o início de um debate não maniqueísta em que o médico não seja o vilão. Por outro lado, temos que defender o direito daquela gestante que deseja o parto vaginal, tê-lo com a máxima segurança, caso possível. Para isto, o foco não deve ser a redução de custos (embora em saúde o custo seja um importante fator que não se pode deixar de levar em conta), mas sim o de realizar o acompanhamento do trabalho de parto e o parto vaginal com segurança.
Indefensável neste ponto é o fato de vários colegas médicos “inventarem” diagnósticos para realizarem a cesariana. Sabemos que isto ocorre por impossibilidade de se escrever o real motivo que seria o pedido materno. Portanto, esforços devem ser feitos para legalizar a entidade da cesariana por pedido materno."

RESPOSTA:
Estas manifestações são tendenciosas, arbitrarias e inverídicas já que existem enumeráveis casos de mulheres grávidas sem risco que procuram cada vez mais locais e médicos ou mesmo parteiras que tem como norma o parto natural, devido a que seus médicos falam abertamente que não realizam esse tipo de atendimento e sim propõem abertamente uma cesárea desnecessária. Para confirmar estes argumento e possível acessar os links na internet que tratam destes temas tanto no Brasil como no mundo todo.

"Como comprovação do que escrevemos, gostaríamos de apresentar alguns trechos extraídos do livro da Agência Nacional de Saúde (ANS) lançado em 2008: “O modelo de atenção obstétrica no setor de saúde suplementar no Brasil: cenários e perspectivas”. Este livro aborda vários aspectos da assistência obstétrica com o claro objetivo de alavancar o parto vaginal, usando-se de estudos vários de conceituadas revistas científicas. O grande problema é que a análise dos resultados é, muitas vezes, feita de forma equivocada, levando o leitor a falsas interpretações:
• ...assim os médicos se opuseram à intervenção das parteiras, alegando ser a gravidez uma doença que requer o tratamento de um verdadeiro médico.
• Estabelece-se então um modelo médico de assistência à gestação e ao parto que trata o corpo da mulher como uma máquina defeituosa, baseado numa série de crenças, idéias e maneiras de pensar próprias de toda uma categoria de profissionais, constituindo o que poderíamos chamar de modelo médico de saúde.
• Os serviços de obstetrícia submetem as mulheres a uma série de rotinas que constituem um rito de passagem para a maternidade: separação das pessoas “normais” que continuam suas vidas fora do hospital, ficar a cargo de instâncias que estão fora de seu controle, realização de investigação e exames que envolvem a exploração de suas partes mais íntimas por homens desconhecidos e sujeição a métodos inquietantes e muitas vezes dolorosos os quais ela não deve recusar porque são feitos “para o bem do bebê”. Somente após estes ritos de isolamento e humilhação, a sociedade a reabilita como mãe. • O incremento da cesariana é claramente responsável pelos péssimos resultados obstétricos.
• “Se quisermos mudar a humanidade, temos que mudar a forma de nascermos”.

Estes trechos são emblemáticos e mostra muito bem como a questão do parto está sendo tratada. Com argumentos sofistas, falsas evidências e manipulação de resultados científicos. Nós, médicos, devemos nos preocupar em assistir ao parto e a oferecer o que há de mais seguro na manutenção da saúde integral da mulher: o direito de ser atendida no momento mais belo de sua vida por pessoas qualificadas para este momento tão sublime, com todo o carinho e atenção, mas também preparadas para resolver qualquer intercorrência que pode tirar dela, inclusive, a vida."

RESPOSTA:
Esta última frase do autor coloca em evidência todo o referido anteriormente, já que o médico deve estar preparado para corrigir “intercorrências” e não para realizar condutas que a podem aumentar como é o caso de realizar sem causa médica, cirurgias de alta complexidade e passíveis de provocar inúmeras complicações.
Podemos concluir que o parto por via vaginal em gestações de baixo risco e o mais seguro (não existem evidencia científicas do contrario) e que as cesáreas desnecessárias devem ser evitadas por vários motivos algum deles estão colocados resumidamente a continuação:
• MAIOR MORTALIDADE MATERNA
• MAIOR MORBIDADE DURANTE E APÓS O PARTO
• MAIOR RISCO EM GESTAÇÕES POSTERIORES
• MAIOR MOLESTIAS PÓS OPERATÓRIA
• RECUPERAÇÃO MAIS LENTA QUE O PARTO VAGINAL
• AMAMENTAÇÃO RETARDADA
• ANTECEDENTES OBSTETRICOS DESFAVORAVEIS
• MAIOR COSTOS

CONCLUSÃO:
1.- A Obstetrícia assiste a dois pacientes, e um deles não pode manifestar seus desejos
2.- Não temos evidência de que a cesárea seja mais segura que o parto vaginal.
3.- Os riscos das cesáreas estão muito diminuídos e não devemos duvidar em recorrer a ela si fosse necessário
4.- Porem não parece lícito recorrer a ela sem indicação contrariando as leis da fisiologia
5.- Como se justifica se surge um problema no caso de cesárea sem indicação médica?
6.- Somente uma correta informação servirá para esclarecer as duvidas.

Para certificar estas conclusões estamos colocando frases celebres colocadas por pesquisadores de ambos sexos que tense destacado sobre este tema:

MARSDEM WAGNER
“A CESAREA DESNECESSÁREA É O SIMBOLO DA DESHUMANIZAÇÃO DO PARTO”

MIRANDA DODWELL
“SE FAZEMOS ACREDITAR AS MULHERES QUE A CESÁREAS É MAIS SEGURA, CERTAMENTA A PEDIRÃO”

SUSAN BEWLEY
“AS MULHERES TEM LOGRADO, NA ÚLTIMA CENTURIA, IMPRESIONANTES ÉXITOS HACIA SUA INDEPENDENCIA, POREM TEM PERDIDO CONFIANÇA NO SEU CORPO. E SEUS TEMORES CONDUCEM A CESÁREAS ELETIVAS, QUE CERTAMENTE NÃO E A SOLUÇÃO ADEQUADA”

ESTHER VILELA
“DEVEMOS TRANSFORMAR A RELAÇÃO DO PODER EM RELAÇÃO SOLIDARIA”

Para finalizar concluímos estas respostas com as seguintes afirmações:
“DEVEMOS TRANSFORMAR AS AMBIÇÕES DO METODO DE PARTO CONVENCIONAL, O PESADELO DAS CESÁREAS DESNECESÁRIAS. EM UMA REALIDADE DO PARTO HUMANIZADO”

Para maiores informações sobre as vantagens do parto natural ver Trabalho ganhador do premio da ABRAMGE em 2007 e do livro: Atención al Nacimiento Humanizado – Basado en Evidencias Científicas Campinas (SP), 2007 (em Espanhol)

Dr. Hugo Sabatino

10 julho 2011

Resgate das Formas de Nascer



  • HUGO SABATINO
    MÉDICO, PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE TOCOGINECOLOGIA FCM - UNICAMP
  • VERÔNICA SABATINO
    ARQUITETA, ALUNA DE PÓS GRADUAÇÃO DA UNICAMP
  • Contato: sabatino@caism.unicamp.br


1 - INTRODUÇÃO:
A prática da obstetrícia (atenção de casais grávidos), requer a participação da ciência (para realizar diagnóstico correto) e da arte (para realizar tratamento adequado). Por este motivo é pertinente a observação do famoso historiador Auguste Comte, que diz: "Não se deve praticar uma ciência a menos que se conheça sua historia".

Tratar de conhecer as formas do nascer através da História, permite-nos percorrer caminhos com grandes avanços e alguns retrocessos, quando consideramos resultados de estatísticas vitais (hoje morrem significativamente menos mulheres e recém-nascidos que na Antigüidade); porém existem na atualidade importantes diferenças regionais (culturais) em países com economias menos favorecidas, onde ainda persistem retrocessos não solucionados. Segundo informação de Chuck Raasch (analista político do GNS/USA Today). Uma mulher na Nigéria possui a probabilidade 600 vezes maior de morrer durante o parto do que outra na Suécia.

Na América Latina, países com menos poder econômico como Cuba apresentam três vezes e meio (3,5) menos mortes maternas e três vezes (3,0) menos mortes perinatais que no Brasil, que tem maior poder econômico (Dados da OMS, publicados na revista Tema, fevereiro 1999). Avanços tecnológicos levam a melhorar o conhecimento de processos fisiológicos, assim como a aprimorar diagnóstico e tratamento corretos dos desvios da normalidade. A obstetrícia de hoje tem maior chance do que o resultado do nascimento seja mais seguro do que na Antigüidade.

Existem evidências de que o abuso ou mau uso da tecnologia pode ser motivo de resultados perinatais menos favorecidos. Por exemplo, o controle monitorizado de um parto de baixo risco (sem patologias) aumenta significativamente a instrumentalização desnecessária (uso de drogas, fórceps, cesáreas, entre outros) desse nascimento. O abuso de cesáreas desnecessárias (sem indicação médica ou por diagnóstico errado) aumenta as complicações intra e pós-operatórias, além de ter maior complicação em partos posteriores. Aumenta a incidência de morte materna, assim como o risco de resultado perinatal inadequado (em Simpósio de Cesáreas, Campinas, 2002).

Estas e outras observações similares acontecidas durante a evolução histórica dos acontecimentos mais relevantes do nascimento, estimularam-nos a realizar levantamento dos fatos, avanços e retrocessos acontecidos através do tempo, apresentados de forma resumida e amadora para que sejam imitados quando a evidência mostra benefícios, e eliminados prontamente quando não são dignos de imitar.

Desta forma, pretendemos magnificar o beneficio de condutas adequadas para nossas futuras mães e recém-nascidos. Quem sabe seja esta uma das maneiras de melhorar o desempenho do nascimento, para diminuir a violência existente em nossa sociedade, resgatando as formas de nascer de sociedades antigas e menos violentas (A Anistia Internacional, através da revista ÉPOCA de outubro/2003, traz a informação de que uma pessoa morre no mundo a cada minuto, vítima da violência armada).

Os fatos aqui apresentados fazem parte do curso de extensão que o Grupo de Parto Alternativo da Unicamp oferece em sistema on line a pessoas ou grupos da área da saúde. Para maiores informações, consultar o site:www.extecamp.unicamp.br/parto_alternativo

Para uma apresentação ordenada, dividimos o tema seguindo a clássica separação entre Pré-história e História. Esta última em Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea.

Como era a forma de nascer em cada um desses períodos?. 


2.- Pré-Historia
Como é de se supor, existem poucos documentos que certificam a forma de nascer nos períodos Paleolítico Inferior e Superior, Neolítico e Idade dos Metais. As hipóteses sobre os primeiros nascimentos, descritas pela Bíblia e outros, não serão comentadas, deixando ao leitor a liberdade de procurar suas próprias respostas desses primórdios. Limitaremo-nos a apresentar dados de trabalhos publicados de achados antropológicos, que nos ajudam a responder, ainda que em parte, a pergunta acima realizada (Muitos dos dados apresentados foram obtidos de José Jobson de A. Arruda; História Antiga e Medieval . Editora Ática - 1990 e de Victor Hugo de Melo; Evolução Histórica da Obstetrícia. Tese de Mestrado Dep. Ginec. Obst. FCM UFMG - 1983).


2.1.- Paleolítico Inferior: (Antiga idade da pedra 500.000 A 30.000 aC); Era do Gelo. Aparece o homus erectus, Neanderthal, de hábitos nômades, com habitação em cavernas, alimentação eminentemente herbívora. Descoberta do fogo. Esboço de sistema social. Acasalamento típico. Matriarcado (as mulheres pertenciam à comunidade, desconhecendo o verdadeiro pai das crianças). Por este motivo o nascimento era isolado e sem nenhum tipo de ajuda. Similar ao que acontece na atualidade em algumas tribos da África e Amazonas, no Brasil.


Índia da África tendoo parto sem ajuda. Segundo Liselotte Kuntner - 1983
A mesma índia vista de costas com o recém nascido  seus pés. Segundo Liselotte Kuntner -1983
2.2.- Paleolítico Superior: (Quarta glaciação, 30.000 a 18.000 aC). Aparece o homus sapiens, Cromagnon, de hábitos sedentários, atirador de dardos, alimentação carnívora. Sistema social mais complexo. Inicio da linguagem, da arte (cavernas de Altamira). Acasalamento. Patriarcado (as mulheres começam a ter parceiro fixo), ritos funerários e magia. O parto começa a ser assistido por magos, familiares ou parteiras. Aparece a couvade (descanso e presentes para o pai).

2.3.- Neolítico: (Idade da Pedra - 18.000 a 5.000 aC); Diversos grupos dispersos na Turquia e Irá. Os grandes animais recuam. Domesticação de animais pequenos. Agricultura. Teares simples. Barcos. Vida urbana. Os nascimentos começaram a ser atendidos por parteira ou pelo marido


Peça arqueológica mais antiga tendo o parto em posição de cócoras. Encontrada em escavações em Catal Hüyük na Turkia Central.
De 6.500 a 5.700 aC. Museu arqueológico de Ankara


2.4.- Idade dos Metais: (5.000 a 4.000 aC); Grupos no Egito e Grécia. Trabalhos com cobre, estanho, bronze e ferro ao final. Avanços da agricultura, transporte e industria. Aparece a escrita. Vida Urbana estratificada e Rural. Estado e Religião como Instituições. Nascimentos atendidos por parteiras nas cidades e na zona rural pelo marido, que tinha experiência em atender partos nos animais. Alguns métodos alternativos para atender partos e facilitar o nascimento na posição vertical.


3.- HISTÓRIA

3.1.- ANTIGA: (4.000 aC a século V). Como acontecimento relevante, este período tem as civilizações Oriental e Grega e termina com a invasão Bárbara e a queda do Império Romano. Os nascimentos eram realizados por parteiras empíricas com a parturiente em posição vertical, apoiada em tijolos, ou mesmo no colo do marido ou de pessoas da comunidade treinadas para isto (boas de colo), em domicilio.


Mulher na Pérsia tendo o parto apoiada em três tijolos


3.2.- MEDIEVAL: (século V a século XV). Como acontecimento relevante temos o feudalismo na Europa. Este período termina com a queda de Constantinopla (turcos) e o término da guerra dos 100 anos (Inglaterra e França). Os nascimentos eram realizados por parteiras regulamentadas, com a parturiente em posição vertical e colocada em cadeiras previamente fabricadas e em domicilio.


Modelos de cadeiras de partos de várias regiões da Europa e América

3.3.- MODERNA: (século XV a século XVIII). Como acontecimento relevante, temos a onda revolucionária na Europa. Este período termina com a Revolução Francesa para alguns e com o Descobrimento da América para outros. Os nascimentos eram realizados por parteiras com instrução e por médicos (sendo que a mulher atendida por homem perdia cinco virtudes: pudor, pureza, fidelidade, bom exemplo e espírito de sacrifício). Aparecem os primeiros livros de obstetrícia. As parturientes sempre em posição vertical ou de cócoras, apoiadas em bancos, tamboretes e cadeiras sofisticadas em domicílio.

3.4.- CONTEMPORÁNEA: (século XVIII até nossos dias). Neste período houve muitos acontecimentos relevantes. As várias guerras acontecidas, principalmente as mundiais, permitiram avanços tecnológicos para facilitar a morte do inimigo. Muitos destes avanços são hoje utilizados pela medicina. Os nascimentos começam a ser atendidos por médicos obstetras em Instituições denominadas de Maternidades, para diminuir as mortes ocorridas no período puerperal.



Cadeira de Bolochi (Itália) para atender partos com a mulher em posição horizontal (1871)



Os partos começaram a ser realizados com a mulher em posição horizontal, em cadeiras especialmente construídas (posição de litotomia).


Cadeira de parto convencional, utilizada na grande maioriadas maternidades, com a mulher em posição horizontal (Litotomia).


As parteiras foram oficializadas e atendiam também na zona rural. Surgem neste período a grande ajuda da anestesia e, para evitar os efeitos secundários desta, os métodos psicoprofiláticos. Posteriormente surge a Neonatologia, para dar atenção médica ao recém-nascido. Estes avanços, como o descobrimento das transfusões sanguíneas e os antibióticos, permitiram dar maior seguridade às mulheres e aos seus filhos. Na década do 50 foram publicados na Inglaterra os primeiros resultados estatísticos dos casos de alto, médio e baixo riscos gestacionais, permitindo com isto separar as mulheres grávidas com maior chance de ter problema na hora do parto. Simultaneamente nos EEUU surgem as primeiras publicações questionando a posição horizontal para atender o parto (efeito da gravedade), confirmadas posteriormente por outros pesquisadores dentro e fora do país. Na década de 80, inspirado nas observações de Paciornick de partos nas reservas indígenas de Curitiva e de Galba Araújo, no Ceará.

Coleção de cadeiras utilizadas por parteiras no Ceará,
para atender partos em posição vertical.

Surge em Campinas o Grupo de Parto Alternativo, hoje com mais de 1.000 partos atendidos em posição de cócoras (vertical).

Método postulado em Campinas em 1980, para atender partos em posição de cócoras (Resgate das formas de nascer).


Em 17 de outubro de 1993 surge a "Carta de Campinas", apoiando a humanização do nascimento e formando a primeira organização não governamental do gênero, denominada Rede de Humanização do Nascimento (REHUNA), com representação atual em varias cidades do Brasil. Hoje contamos com outras instituições similares, destacando a recém-formada "Alma Mater" com sede também em Campinas. Estas Instituições, junto a portarias do Ministério da Saúde, estão lutando para diminuir o intervencionismo desnecessário nos casos de gestações de baixo risco (80% dos casos, segundo dados da OMS), permitindo com isto o resgate das formas de nascer

Ciclo evolutivo das formas de nascer desde a pré-história até nossos dias. Observamos que após transcorridos mais de 8.000 anos a posição da mulher está sendo resgatada.


Parto humanizado conquista júri do Prêmio Abramge 2007



http://www.unicamp.br/unicamp/divulgacao/2007/11/28/parto-humanizado-conquista-juri-do-premio-abramge-2007

Parto é Normal. Com este tema, o Prêmio Abramge de 2007 não poderia deixar de premiar o professor José Hugo Sabatino, do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), um dos precursores do parto de cócoras em Campinas. O obstetra foi reconhecido pelo trabalho intitulado "Análise crítica dos benefícios do parto normal em distintas posições", no qual analisou, em partos normais, mulheres em posição horizontal (ginecológica ou litotomia), com o objetivo de observar comportamento de variáveis presentes no momento do parto, denominadas de "independentes".
Outro objetivo da análise é selecionar e analisar o comportamento de duas variáveis neste denominadas de "dependentes", uma materna, e outra do recém-nascido.

Sabatino dedica o prêmio para todo o grupo que atuou no projeto, preparando as mulheres para o nascimento. A dedicação ao parto humanizado há mais de 25 anos já é conhecida na América Latina, onde participa intensamente de seminários e congressos dedicados ao tema. Em 2005, ele realizou a Cátedra da Unicamp em Madri, que foi receptiva às suas idéias sobre parto natural. "Não existe unanimidade de critérios médicos, de como devem ser atendidos os partos em seres humanos. A posição que a mulher deve adotar no momento do nascimento, é ainda motivo de grande controvérsia", diz.

O obstetra acrescenta que a grande maioria das maternidades utiliza protocolos que obrigam mulheres sem risco gestacional a adotar a posição horizontal ou ginecológica, no momento do parto. "Esta conduta, que é historicamente generalizada, produz nascimentos bem-sucedidos, segundo seus defensores, mas, por outro lado, em mulheres também sem risco gestacional, existem evidências na literatura médica que, ao colocá-las no momento do parto em posição vertical ou de cócoras, os mecanismos do parto são respeitados, permitindo com isso, nascimentos, com menos complicações maternas e fetais e com recém-nascidos mais saudáveis", questiona.

Sabatino acredita que um melhor conhecimento do processo humanizado, assim como a repercussão (positiva ou negativa) que uma determinada posição possa causar, como o determinado pela análise crítica do trabalho premiado, poderá resultar na formulação de políticas públicas de atendimento à população. Essas políticas devem privilegiar questões como "a mais adequada posição materna que uma mulher deve adotar, em um parto normal para que o nascimento se torne com maior respeito aos processos fisiológicos do nascimento".

A importância do trabalho de Sabatino foi reforçada no Prêmio Abramge de Jornalismo, que premiou a entrevista intitulada "Vantagens para mãe e filho compensam medos quase sempre infundados", concedida pelo obstetra aos jornalistas Carlos Gustavo Leme Beraldi e Janaína Medeiros e publicada no Jornal da Cidade, de Jundiaí, em 23 de setembro deste ano.

Fotos: Antonio Scarpinetti
Edição de imagens: Luís Paulo Silva
Edição das imagens: Everaldo Silva


Projeto Cidadão - agosto/2008

Grupo do Caism apóia o parto de forma natural
http://cosmocard.com.br/institucionais/cidadao_rac/mostra_noticia.php?url=5032
Ana Beatriz Zogaib 
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Equipe formada por médico, anestesista e psicóloga orienta gestantes e pais

Felicidade e euforia
Por outro lado, ansiedade e insegurança
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A chegada de futuras mamães à reunião do Grupo de Parto Alternativo, em Campinas, é marcada por uma mistura de sentimentos que retrata o orgulho pelo que elas carregam no ventre e a preocupação com os cuidados que devem tomar pelos próximos meses
O tempo mostra, pouco a pouco, mudanças no corpo que tornam evidentes a mudança de vida que está por vir e as gestantes, cientes disso, buscam uma gravidez tranqüila e dar à luz da forma mais natural possível
Elas têm o apoio das doulas, voluntárias que as apóiam durante a gestação, o parto e o pós-parto, doando suporte físico, emocional e psicológico

O grupo, que atua no Centro de Atenção Integral à Mulher (Caism), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), incentiva o parto normal há quase 30 anos preparando e acompanhando gratuitamente gestantes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e também as conveniadas, desde que não tenham gravidez de alto risco
Muitas, como a engenheira de alimentos Marcela Gandara, abrem mão do conforto do atendimento pago para ter o filho no hospital com o apoio da ação
“Sempre quis fazer parto normal e, no convênio, existe um empurrômetro para a cesárea, uma idéia errada de que ela é mais segura”, explica Marcela que estava grávida de nove semanas quando aderiu à iniciativa
Marcela afirma que deseja ter esclarecimento para que possa ter uma postura ativa no nascimento do filho
“A gente fica grávida e passa um monte de coisa na cabeça, mas se você tem conhecimento, pode ter poder de decisão”, diz
Ela é apoiada pelo marido, o engenheiro Irineu Gandara, que também diz precisar de orientação para cumprir o papel de pai
“Somos marinheiros de primeira viagem e eu quero participar de tudo”, conta
A socióloga Mariana Delgado Rezzaghi foi recebida pelo grupo na reta final da gravidez, com 34 semanas
Ela afirma que o médico que a acompanhava pelo plano de saúde já estava propondo a cesárea, mas que sua preferência pelo parto normal falou mais alto
“Vim com medo de cair numa cirurgia desnecessária”, diz
A administradora Mara Federici se antecipou e procurou o projeto alternativo na décima oitava semana de gestação
“Quero poder ter escolha e a primeira é o parto natural”, enfatiza
O trabalho com as gestantes é realizado por quatro voluntários dispostos a mostrar que a mãe natureza sabe o que faz: o obstetra Hugo Sabatino, o anestesista Franklin Braga, a psicóloga Silvia Nogueira Cordeiro e a doula Lucia Caldeyro, além de profissionais da área de saúde que desejam realizar estágio no grupo e que são recebidos e acompanhados pela equipe por um ano

Atualmente, são seis estagiárias
O objetivo é ajudar as mulheres a conseguir ter um parto natural sem que precise de anestesia ou de outras intervenções quando essas não são necessárias
“Temos que ensinar a mulher a enfrentar a dor e sair favorecida”, explica Sabatino, médico obstetra coordenador do grupo
Para alcançar a meta, os profissionais se reúnem com as participantes duas vezes por semana e alternam o trabalho de conscientização pela informação com a prática de exercícios específicos que ajudam a prepará-las para o dia tão esperado
Grupo já realizou 2 mil nascimentos de cócoras
O Grupo de Parto Alternativo surgiu em 1980 a partir de um projeto de pesquisa desenvolvido pelo obstetra Hugo Sabatino, que percebeu reivindicações de pacientes do Caism em relação ao atendimento do parto normal
O médico explica que a ação visa à humanização do parto, ou seja, respeitar a natureza e não causar uma violência desnecessária à mulher, no caso, uma cesárea sem justificativas médicas
Segundo ele, a cirurgia aumenta em sete vezes o risco de morte da paciente
O parto de cócoras (posição em que a gestante fica agachada em posição vertical) é o principal meio apontado para alcançar tal objetivo
Uma cadeira que facilita o procedimento foi adquirida pelo Caism e os médicos que atendem no local estão instruídos a atender parturientes que queiram ter o bebê dessa forma
Em 28 anos de existência, a iniciativa conseguiu que fossem realizados mais de 2 mil partos de cócoras
Mas, para Sabatino, é preciso acatar a opção de cada mulher
O obstetra explica que o grupo estimula três pilares, um deles, o respeito aos costumes regionais e individuais do casal
O respeito aos processos fisiológicos da mulher também é levado em consideração, o que, segundo ele, pode ser exemplificado pela opção de deixar a parturiente em posição vertical, comprovadamente a melhor para o parto normal
Outro aspecto considerado importante é o trabalho multidisciplinar com a participação de diferentes profissionais, como obstetra, anestesista, enfermeira e doula, na sala de parto

(ABZ/AAN)

País faz 15% mais cesáreas que o recomendado pela OMS 

A cesariana representa 43% dos partos realizados no Brasil no setor público e no privado, número bem acima dos 15% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
No Sistema Único de Saúde (SUS), as cesáreas somam 26% do total de nascimentos e nos planos de saúde, o percentual é maior, cerca de 80%
Os números são de 2006 e foram revelados em pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde
O ministério lançou em maio deste ano a Campanha Incentivo ao Parto Normal, que será veiculada até dezembro
A iniciativa tem o intuito de diminuir a incidência das cirurgias, sensibilizando gestantes e também profissionais de saúde, já que um dos aspectos identificados pelo governo para o aumento das cesáreas é a preferência médica devido ao menor tempo de assistência necessária
O Ministério ressalta que no parto cirúrgico há uma separação abrupta e precoce entre mãe e filho, num momento primordial para o estabelecimento de vínculo, além de destacar que o parto normal é o mais seguro para a parturiente e o bebê
De acordo o governo, é comprovado que fetos nascidos entre 36 e 38 semanas, antes do período normal de gestação (de 40 semanas), têm 120 vezes mais chances de desenvolver problemas respiratórios agudos e, muitas vezes, precisam de internação em unidades de cuidados intermediários intensivos
Para as mães, o parto cirúrgico significa mais chances de hemorragia, infecção no pós-parto e recuperação difícil

(ABZ/AAN)

SAIBA MAIS 

O Grupo de Parto Alternativo atua no Caism, na Unicamp, com o objetivo de incentivar o parto natural
Profissionais voluntários preparam e prestam assistência às gestantes durante a gestação, o parto e o pós-parto
As doulas acompanham todo o processo, com suporte físico, emocional e psicológico
No parto, sugerem medidas naturais que atenuam a dor e diminuem a ansiedade
Endereço: Caism, Cidade Universitária, segundas e quartas-feiras, das 19h30 às 21h
Telefone: (19) 3521-9461
E-mail: silvianc2000@hotmail
com

Doula, a amiga sempre presente da boa hora 

Costume de antigamente é reinventado para resgatar o lado humano de dar à luz
Doula, em grego, significa “mulher que serve”
Atualmente, a palavra é utilizada para se referir a mulheres especializadas no acompanhamento da gestante, antes, durante e depois do parto
Elas ajudam a futura mamãe a se preparar física e psicologicamente para dar à luz, colaboram para o conforto físico durante o nascimento, além de incentivar a participação do pai do bebê durante todo o processo
A idéia é que, se antigamente, com o parto realizado pela parteira em casa, a gestante era acompanhada por mulheres mais experientes, como a própria mãe, irmãs ou vizinhas, hoje, com o procedimento nos hospitais, o acompanhamento pode ser feito pelas doulas
Na sala de cirurgia, elas não executam nenhum procedimento médico e, sim, ajudam a parturiente a encontrar a melhor posição para o trabalho de parto, mostram formas de respiração e sugerem medidas naturais que atenuem a dor das contrações e diminuam a ansiedade, como banhos e massagens
Na opinião do médico Hugo Sabatino, a atuação das doulas é fundamental
“Elas se ocupam das partes física e psicológica da parturiente, compreendem e acompanham a mesma”, afirma
No entanto, o médico não esconde que ainda há pouco espaço para as profissionais
“Apesar de existirem evidências científicas de que elas diminuem a complexidade do parto, há lugares que não aceitam sua presença”, conta
Segundo Lucia Caldeyro, doula há 25 anos e coordenadora do trabalho das estagiárias no Grupo de Parto Alternativo, o segredo do parto é a gestante se sentir confiante e tranqüila
“A mulher não precisaria de preparo para dar à luz, pois é algo natural, mas, se ela está estressada, tensa e insegura, o corpo não se abre”, explica
Para ela, é importante fortalecer a responsabilidade da mulher e do marido durante o nascimento, estimular uma postura ativa de ambos desde a gravidez
Lucia conta que o interesse pelo parto teve influência familiar
“Começou com meu pai, médico que pesquisava o assunto”, conta a filha de Roberto Caldeyro Barcia, médico uruguaio que desenvolveu métodos de registro das contrações do útero na gestação e da freqüência cardíaca fetal
A profissional diz que o parto normal e sem dor do filho caçula foi mais um incentivo para se tornar doula, o que aconteceu nos anos 80, quando o termo ainda não era utilizado e não existiam cursos de especialização
“Decidi ajudar outras mulheres e fui buscando recursos, fiz curso de massagem e psicodrama”, diz ela, que é formada em pedagogia e hoje é vice-presidente da Associação Nacional de Doulas (Ando), entidade que ajudou a fundar no ano de 2003

A bióloga e professora Flávia Fuchs de Jesus teve a primeira filha, Ariela, há cinco meses, com o acompanhamento de Lucia
A bióloga procurou o grupo de Parto Alternativo aos quatro meses de gestação porque queria um parto de cócoras
Mesmo tendo que realizar a cesárea, ela afirma que a contribuição da doula foi importante
“O preparo para aprender a relaxar na dor foi essencial
Antes de fazer cesárea, tive dilatação total sem anestesia graças a essa conscientização, lembrava de usar o que aprendi”, afirma
Flávia conta que permaneceu em casa durante boa parte do trabalho de parto, junto à profissional, que a ajudou a manter a calma e orientou o marido sobre como colaborar
Segundo a bióloga, outro benefício da parceria foi o entendimento sobre o recém-nascido e a importância da amamentação na primeira hora
“Passei a valorizar o contato imediato com o neném mais do que o próprio parto”, explica
Para a psicóloga Lara Heller Gordon, que há um ano faz estágio como doula, uma das missões de seu trabalho é proporcionar o “empodeiramento” da parturiente, mostrar que ela pode e deve controlar a situação
Segundo Lara, é possível perceber que o principal medo das gestantes é em relação à dor, que pode ser superada com a ajuda das doulas
“Quando tem uma pessoa que está acompanhando a mulher e vendo suas necessidades, ela pode até sentir dor, mas nem pensa em anestesia”, exemplifica

(ABZ/AAN)